sexta-feira, 27 de maio de 2011

O palhaço que me encantou

  Entre os últimos anos tenho a real percepção de que todas às minhas quartas-feiras sempre foram os melhores dias da semana. E olha que eu sempre disse isso pra mim mesmo. Se tem alguma coisa que me surpreende, é a tal da quarta-feira. Não tem jeito!
   Lá vou eu, com minha cabeça lá pelas tabelas, com um humor franco para qualquer jornaleiro notar, uma série de papeis na mão, um livro para completar, o cansaço do dia querendo repousar, uma noite estrelada cheia de esperança e um palhaço no semáforo que iria me encantar. Realmente, foi ele que me fez ganhar a minha noite, quem sabe não foi ele que me ajudou a vencer o meu dia?
   Então, Sinal vermelho. Parada para ver o rapaz brilhar. Tempo curto, mas segundos longos.  Carros e mais carros. Pessoas atravessando a faixa e eu, fingindo não olhar, com a cabeça baixa. Impossível!
   Ele com uma blusa amarela, suspensório, bermuda preta, nariz de palhaço e aquela maquiagem no rosto pra ninguém colocar defeito. Na medida em que eu me aproximava, ele fazia questão de aumentar os seus truques, digno de sua sabedoria. Labarismo, fogos e o melhor: o poder do “encantar”.
   De repente resolvo diminuir as minhas leves passadas como um sinal de querer descobrir o que aquele homem com uma bela pintura no rosto, aparentando ter uns 27 anos, estava querendo me falar. Sem ação e com todos me observando, não teve outra, deixei me encantar pelo palhaço. Era obvio que ele só queria me fazer sorrir. No mesmo momento, fiz questão de lhe retribuir a sua obra. Recordo-me de ter retirado a minha carteira do bolso, analisei por alguns segundos. A cédula de menor valor que tinha no momento era a de dois reais. Entreguei o dinheiro em suas mãos e pude perceber o brio em seus olhos, era como se o brilho fosse uma demonstração de sinceridade após o ocorrido. Sem falar nada, continuei seguindo a direção na qual eu pretendia chegar e sem querer derramei uma lágrima no caminho. E pensei: Após longas jornadas e horas esse foi o único que me fez sorrir hoje, cogitei.
    No dia seguinte, quinta-feira, pude lhe encontrar. Lá estava ele se preparando no banco da Praça de Nova Friburgo – RJ, para encantar outra pessoa à noite. De imediato, cheguei perto dele e lhe cumprimentei. Perguntei-lhe: tudo bem? Retribui de imediato com um sorriso sincero e me respondeu: Tudo bem rapaz. Bem mesmo esta as coisas pra você.
   Fiquei aturdido e com a sua fala expressiva em meus pensamentos por uns oito segundos, mas não disse que as coisas não estavam indo muito bem como o programado e nem os fatos que ocorreram no mês de maio comigo, afinal, era um problema só meu. Conversei com ele cerca de uns dois minutos, pois eu estava com pressa. Ele era um homem muito bonito por sinal, com ideologias fortes e marcantes. Analisei rapidamente a sua linha de raciocínio e percebi que era um homem de classe média e muito inteligente pra variar. Era percebível, fiz questão de ficar quietinho só a lhe observar cognitivamente.
   O palhaço não sabe, mais foi ele que salvou o meu dia, há minha semana e o meu mês inteiro de maio. Não tem preço nenhum que pague o sorriso que ele me tirou e os dois reais que lhe dei, ah, ele merece muito mais do que isso. Por esse motivo, e por tentar retribuir o que ele me fez. Desejei só coisas boas, vibrações positivas e dentre elas pedi que ele nunca parasse de encantar ninguém, principalmente alguém que tenha o mesmo perfil como o meu. De fácil compreensão.
   O artista soube reconhecer o outro artista. Foi isso que me chamou a atenção.
   Espero poder reencontrar ele outras vezes, já que, só estava de passagem na cidade. Douglas é uma das melhores pessoas que alguém pode conhecer. Foi exatamente dedicado para ele, o meu texto do mês no blog. O melhor que pude fazer e também compartilhar com vocês. O mérito que aprendi: o de encantar.

   Bruno Coelho